08/06/2010

As igrejas cristãs e sua tolerância pecaminosa (I)




por Marcos Lopes


Ao tratar da história da Confissão Positiva, é importante observar que a fé cristã é uma religião tolerante. Porém esta mesma tolerância não pode ser pecaminosa, omitindo erros e admitindo doutrinas contrárias à Bíblia. Muitos evangélicos acreditam, por exemplo, que se citarmos os nomes daqueles que não andam conforme a Palavra de Deus, estamos deixando de ser tolerantes, o que não é verdade. Explicando sobre este parecer posso afirmar que ao contrário da cosmovisão que se intensifica na mente dos cristãos evangélicos deste tempo, as Escrituras nos alerta que são muitos os enganadores que viajam pelo mundo (2 Jo 7-8), assim como o Mestre Jesus recomenda para termos cuidado com os falsos profetas (Mt7.15;24.4). Devido à mentalidade pós-moderna, parece ser inadmissível se referirmos a uma religião ou líder religioso de uma maneira negativa apresentando seus erros e contradições. Infelizmente esta mentalidade anti-cristã é aceita por inúmeros líderes evangélicos em nossos dias. O que devemos observar é que Jesus Cristo, assim como os apóstolos denunciavam pelo nome os que prejudicavam a Igreja que contribuíam para o afastamento da verdade. Os líderes cristãos que não eram sinceros e não ensinavam a verdade do evangelho deveriam ser denunciados (Gal. 2.11; 1Tm 1.19,20; 2Tm 2.16-18; 2Tm 4.10,14).

A Bíblia autoriza citarmos nomes dos que não andam conforme a doutrina cristã e promovem libertinagens assim como aqueles que produzem heresias de perdição. Milhões de evangélicos e pastores acreditam que não se deve citar nomes dos hereges, todavia estes irmãos desavisados se esquecem que os pecados de Gálatas 5.19-21 são todos obras da carne assim como as heresias, e os que os praticam não entrarão no reino de Deus.

É interessante notar que os cristãos que viveram no período da reforma não pensavam como muitos atuais líderes evangélicos, ao contrário, os reformadores tinham uma cosmovisão totalmente Bíblica, estabelecidas com uma firme convicção das doutrinas Bíblicas. Não há como ser tolerante com o erro e afirmar que ama a Cristo. John MacArthur afirma que o erro deve ser desmascarado, não existe um líder cristão que esteja exercendo um verdadeiro Cristianismo e não tenha suas convicções cristãs bem estabelecidas:

“Como sempre, uma guerra está sendo travada contra a verdade. Estamos em um ou outro dos lados. Não existe território neutro (…) Acontece, também, que estamos vivendo numa geração em que supostos cristãos não sentem o menor interesse pelo conflito e pela contenda. Multidões de cristãos subnutridos nas Escrituras e na doutrina chegaram a pensar que controvérsia é algo que sempre deve ser evitado, custe o que custar. Infelizmente, esse é o exemplo que muitos pastores fracos lhes têm dado (…) A verdade está sempre sob ataque. E, na realidade, é um pecado não lutar quando verdades vitais estão sendo atacadas.” [1]

Nesta pesquisa serão citados vários nomes conhecidos de pastores e televangelistas da mídia brasileira, assim como muitos nomes de pastores norte-americanos, e este é o motivo do esclarecimento do por que – devemos citar nomes – neste capitulo. Os atuais cristãos evangélicos em sua grande maioria não vêem com bons olhos aqueles que julgam as pregações e obras de alguns líderes ditos cristãos, pois acreditam que este ato é errôneo. Infelizmente quase toda a Igreja de Cristo enredou por este falso pensamento, que infelizmente não era o caminho apostólico. Será que os autores bíblicos pensavam que era “fora de ética” citar negativamente algumas pessoas, como milhões hoje acreditam? Antagonicamente a este modo de pensar os apóstolos citam positivamente assim como negativamente certas pessoas, obreiros e pastores. Ao solapar os argumentos daqueles que acreditam ser errado citar nomes de pessoas de uma maneira negativa, apresentaremos de uma maneira contundente algumas passagens do Novo Testamento, provando assim que não é errado citar nomes daqueles que deixaram a integridade Bíblica e permitem heresias assim como libertinagem entre a Igreja de Cristo.

João Batista ignorou toda ética que poderia existir em sua época quando se referiu aos judeus de seu tempo: “Dizia pois João à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi pois frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: temos Abraão por pai…” ( Lc 3.7,8 ARC – 1983 ).

O Senhor Jesus Cristo ao se referir a uma autoridade romana, deixou a suposta ética, estabelecida pelos homens e disse a verdade: “Ele, porém, lhes respondeu: Ide dizer a essa raposa que, hoje e amanhã, expulso demônios e curo enfermos e, no terceiro dia, terminarei.” (Lc 13.32 ARA – 1999). O Senhor Jesus não usou a ética mundana quando se referiu aos escribas e fariseus:

Então, Jesus disse à multidão e aos seus discípulos: “Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moises. Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam (…). Ai de Vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino dos céus diante dos homens! Vocês mesmos não entram, nem deixam entrar aqueles que gostariam de fazê-lo (…) Serpentes! Raça de víboras! Como vocês escaparão da condenação ao inferno? (…) ( MT Cap. 23.1-36 NVI – 1995).

O apóstolo João também citou nomes de pessoas positivamente e negativamente. João elogia Gaio – 3 Jo 1-2, porém cita o nome de Diótrefes que se opunha a ele, e mais tarde na mesma carta (v.12) cita Demétrio, que andava na luz com seu testemunho. Nesta carta observamos que por três vezes ele cita nomes de pessoas, sendo que duas de maneira positiva e uma de maneira negativa. O apóstolo João tratou publicamente com Diótrefes, que propagava falsas doutrinas e se recusava a ouvir o que João e outros líderes cristãos tinham a dizer (3 Jo 9).

Observe citações em que Paulo citava de uma maneira positiva, certas pessoas. Paulo cita positivamente duas mulheres, a avó Lóide e a irmã Eunice (2 Tm 1.5), ensinaram bem o jovem Timóteo e por isso são elogiadas pelo apostolo. Paulo cita também positivamente obreiros que o apoiaram como, os da casa de Onesíforo ( 2 Tm 1.16). Porém Paulo também faz citações de uma maneira negativa ao se referir a certas pessoas e líderes cristãos: Paulo chama de “cães” os maus obreiros (Fil 3.1-3)

O apóstolo Paulo confrontou até mesmo Pedro publicamente quando as ações dele comprometeram a liberdade do Evangelho (Gl 2.11-14). Paulo tratou publicamente com Himeneu e Alexandre quanto ao assunto referente a blasfêmia que cometeram (1 Tm 1.20)Ele tratou publicamente com Alexandre, o latoeiro, por suas atividades danosas (2Tm 4.14). Aqueles que abandonaram Paulo são citados por nome: Fígelo e Hermógenes (2 Tm 1.15).Paulo cita por nome dois obreiros de maneira negativa – Fígelo e Hermógenes – 2 Tm 1.15-18.

Fica evidente pela Bíblia que não é errado citarmos os nomes de qualquer pessoa ou líder evangélico que não ande conforme os padrões morais e doutrinários das Escrituras. O pastor Paulo Romeiro ilustra bem nossa responsabilidade cristã neste aspecto:

“Imagine o leitor se há um remédio sendo comercializado, trazendo perigo de morte á população. Certamente as emissoras de rádio e TV não conseguiriam prestar um serviço ao público levando ao ar o seguinte anúncio: “Informamos que há um remédio sendo vendido nas farmácias que poderá levá-lo à morte. Desde que não vamos citar o nome do remédio, tente descobrir por você mesmo”. Não seria isso um absurdo? Quando alguém descobrisse que remédio é esse, já seria tarde demais.” [2]

Certamente muitos líderes evangélicos não fazem menção ou deixam de citar nomes de pessoas ou até mesmo de igrejas controvertidas, pelo simples fato de acharem que estão desagradando a Deus, e até mesmo pecando ao fazerem certas declarações. O medo de uma punição divina é algo que permeia suas mentes, já que muitos mestres da fé vaticinam uma maldição divina para todo aquele que ousar questionar seus ensinos e sua “autoridade”. Os mestres da fé [3] acreditam que possuem uma unção toda especial e usam indevidamente as passagens de 1 Crônicas 16.22 e Salmos105.15, passagens com referências aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó. Muitos mestres da fé dizem: “Não toques nos ungidos de Deus, para não terem problemas, somos profetas do Senhor”. Entretanto estas passagens não podem ser aplicadas aos pastores nos dias atuais, são passagens do Antigo Testamento, e eram aplicadas aos reis de Israel na Antiga Aliança. Paulo Romeiro faz um comentário com muita propriedade sobre estas passagens:

“As duas passagens não se referem a um questionamento ético ou doutrinário do líder, mas a algum perigo para a integridade física de um ungido de Deus (…) Embora Abimeleque tivesse sido proibido por Deus de tocar no profeta (v.7) e ungido do Senhor, isto é, de causar-lhe algum dano físico, ele não hesitou em repreender Abraão por ter-lhe mentido (…) Davi também, quando perseguido por Saul e com oportunidade para matá-lo, limitou-se apenas a cortar-lhe a orla do manto, explicando com estas palavras o motivo de seu comportamento: “O Senhor me guarde de que eu faça tal cousa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor” ( 1 Sm 24.6). Vemos novamente que o que estava em questão era a vida de Saul e não sua posição doutrinária.” [4]

Em todo o Novo Testamento a unção é para todos os crentes em Cristo (1 Jo 2.20,27) e todos tem acesso ao Pai pois todos somos sacerdotes (1 Pd 2.9). Podemos concluir que devemos ser tolerantes, mas não aquela tolerância que desagrada a Deus, uma tolerância bíblica deve ser nosso referencial, e não devemos temer aqueles que se levantam afirmando ser possuidor de uma unção especial em que não podem ser questionados.

Sobre a questão da tolerância entre os cristãos evangélicos, deve ser observado que as Igrejas cristãs toleram aquele que crê diferente e somos tolerantes, principalmente porque Nosso Senhor Jesus Cristo era uma pessoa tolerante. Segundo o Dicionário Aurélio um dos significados da palavra tolerância seria: Tendência a admitir modos de pensar, de agir e de sentir que diferem dos de um individuo ou de grupos determinados, políticos ou religiosos. A palavra, tolerância aparece quatro vezes nas Escrituras, sendo todas no Novo testamento (Mc 6.11; Lc 10.12; 2 Co 11.19 e Ap. 2.20). A última vez que a palavra “tolerância” aparece na Bíblia seria em Ap. 2.20 que diz: “tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos.” [5] Nesta passagem o Senhor Jesus não aprova a tolerância que era aplicada na igreja de Tiatira. Era uma tolerância pecaminosa, pois convivia abertamente com a falta de santidade e ensinos falsos. John Stott comenta sobre esta passagem:

“Em vista do esplendido registro desta igreja, é triste ler logo mais adiante e descobrir sua transigência moral. Naquele bonito campo permite-se que uma planta venenosa viceje. Naquele corpo saudável um câncer maligno começou a formar-se. Um inimigo está encontrando guarida no meio da comunidade (…) A igreja de Tiatira manifestou amor e fé, serviço e perseverança, mas a santidade não está incluída entre suas qualidades. Ela permite que uma das mulheres da sua comunidade ensine uma ultrajante licenciosidade, e aparentemente não faz nenhuma tentativa de reprimi-la (…) Tiatira tinha amor, mas tolerava um mal, uma profetiza impostora.” [6]

O Senhor Jesus não tolera uma igreja sem tolerância, um povo com muito amor mas aberto aos ensinos falsos. A tolerância que é aplicada no mundo é uma tolerância ímpia e pecaminosa, pois convive com o erro e com a falsidade. A sociedade do século XXI pratica uma tolerância que desagrada a Deus, e toleram toda sorte de pecados assim como enaltecem pessoas que praticam variadas imoralidades na mídia. Em um mundo pervertido como o nosso, é muito triste ter que conviver com uma Igreja que em grande parte também é muito tolerante para com os ensinos falsos. Além de aceitar com muita facilidade toda sorte de ensinos perniciosos e prejudiciais, a Igreja Cristã a exemplo da igreja de Tiatira também tolera ensinos que desviam milhares da verdade do evangelho (MT 7.15; 2 Pd 2.1-3; 2 Tm. 4.3,4). E não somente é tolerante para com as doutrinas falsas, mas não admite que se pronuncie quem são os hereges de nosso tempo.

Notas

[1] MacAthur, John. A guerra pela verdade. São José dos Campos: Fiel, 2008, p. 24,25
[2] Romeiro, Paulo. Evangélicos em crise: São Paulo. 1995. p. 40
[3] Quando citamos os chamados – Mestres da fé – estamos nos referindo aqueles pastores que praticam a Confissão Positiva. Este movimento é conhecido por outros nomes como: Teologia da Prosperidade e Movimento da fé. Os mestres da fé são pastores e líderes apostatas que são pastores abertos a todo ensino herético não se importando se aquela doutrina nova é bíblica ou não, basta que somente dê certo e o povo a aceite como verdade.
[4] Romeiro, Paulo. Evangélicos em crise: São Paulo. 1995. p. 41
[5] Dicionário Aurélio – folha de São Paulo – 1995.
[6] STOTT, John. O que Cristo pensa da igreja. São Paulo: United Press, 1998, p. 60.



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